O ROMANCE ENTRE A BRAÇADA E O COTOVELO

Essa estória aconteceu numa pequena cidade do Estado de Piscinópolis. Lonjão. Tem que viajar um monte. Quando chega na cidade, depois da rua da padaria, bem do lado da praça, fica o lugar onde treinava a equipe de natação. Essa equipe tinha um técnico diferentão. O nome dele era Maisena de Oliveira. Cena da terça-feira passada, 5h47 da manhã, treino da madrugada: - Friozão, equipe toda na água e o Maisena cochilando na cadeira (!!)... Bom, continuando o assunto... a piscina deles era redonda, estilo feijão, com um escorregador no meio. Por isso a equipe tinha que nadar desviando... fazer os tiros desviando, as séries de fundo, tudo desviando. O técnico dizia que descontava o tempo do desvio, mas ninguém botava muita fé naum. Também tinha um cronômetro gigante, que parava várias vezes durante o treino. Aí tinha o assistente técnico do técnico. O nome dele era Batata Onduleichon. Ele sempre esquecia de dar a saída. Ficava uma cara viajando no relógio parado. Quando se ligava que o cronômetro não tava funcionando mesmo, a galera tinha saído faz tempo. A piscina era coberta, mas em dia de chuva quem nadava em qualquer raia levava goteira gelada. Não tinha pra onde fugir. Foi por isso que o Maizena achou melhor não dar série de costas em dias de chuva. Todos os atletas gostaram da idéia. Menos os nadadores de costas. Em época de chuva prolongada ninguém baixava tempo... - Ôpa! Já ia esquecendo: o nome da cidade onde rolou essa estória era Ninguem-Nadópolis, 3.742 habitantes, perto de Treinópolis do Sul. Nesse ponto da estória, todos os nadadores e nadadoras estão empolgados. O que importava pra eles era representar a cidade de Ninguem-Nadópolis no Brasileiro do final do ano, que ia ser na longa, na temida cidade de Todomundo-Nadópolis. Um dos bons nadadores da equipe era o Fastskin da Silva Jr. Nadava 400 livre. Dava uns tempos legais. Tinha também o Bloqueio Respiratório, que mandava bem no final das provas; o Mergulho Raso e Rápido (que sempre saia na frente) e era o capitão da equipe. A melhor nadadora era a Braçada Alongada. Aí tinha o Rolamento do Quadril (que nadava crawl e costas). O Cotovelo Alto Dentro Dágua, o Cotovelo Baixo Dentro Dágua e o Bloco de Partida, que era meio paradão.... tinha também as irmãs Ondulação Com quadril e Ondulação Sem quadril (uma não tinha nadavê com a outra)... e mais uma galera. A equipe era grandona.
Nadar bem o Brasileiro era o objetivo de todos os atletas praquela temporada. Todo mundo detonando nos treinos. Concentração total. Um dia, já tava mais ou menos no fim da base, o Maizena mandou ficar em duplas, um corrigindo o estilo do outro. Foi aí que o Cotovelo Alto Dentro Dágua conheceu a Braçada Alongada. Foi o suficiente. Ele se ligou total. É que a mina era mó gatinha. Eles já tinham se falado uns “oi”, bibibí... parecia até que tinha rolado um clima num intervalo da série de velocidade.
...Então... quando acabou esse treino aí, quando ele tava voltando pra casa de byke, viajando na mina, lembrou que tinha um problema: o Cotovelo Baixo Dentro Dágua tavafim dela. E fazia um tempo. Sabe o pior? Segundo a galera falava, ela já tinha sido vista nadando com o Cotovelo Baixo algumas vezes!! Bom, depois desse dia de um corrigir o outro, tododia eles trocavam um “oi” com direito a beijinho antes do alongamento. Ele achava ela gata, mas o problema era o Cotovelo Baixo... Até o Maisena já tinha falado pra ela que não tinha nadavê nadar com o Cotovelo Baixo Dentro Dágua, que não sai do lugar, fica patinando... patinando... enquanto isso a temporada foi passando, passando. Mas ela tinha dúvidas. Na real, a Braçada era meio indecisa. Até o nutricionista dela, que não tinha nadavê, o Sr. Batatomóvel de Azevedo falava pra ela se ligar, que ela tava fazendo força, dando um monte de braçadas sem sair do lugar. E ela conversava com um, trocava idéia com outro... Mas mesmo assim, ela não chegava a uma decisão.

Vários dias, enquanto o Maizena explicava o treino pra galera, os dois Cotovelos ficavam pagando sapo pra Braçada. Nas competições, arquibancada e na saída do treino. Mó disputa. Mais tudo na paz. Os caras eram bróder. Só que ficou nessa onda a temporada toda. E nada da mina se decidir. A galera pressionava! Todos viam que ela precisava tomar uma decisão rápida, porque o Brasileiro tava chegando. Afinal, era a chance de trazer uma medalha pra Ninguem-Nadópolis. A expectativa na cidade era grande e todos sabiam que ela tinha chance, desde que fizesse a escolha pelo Cotovelo certo Dentro Dágua! E o tempo foi passando... entra semana, sai semana... treinos e treinos se passam. Numerosas séries... todo o específico se passou e nada dela decidir. A expectativa pela decisão da Braçada Alongada era tão aguardada, que já se ouvia dizer que algumas pessoas na cidade não conseguiam sequer dormir direito, de tanta ansiedade! O tempo parecia ter parado... as folhas não se movimentavam mais a um bom tempo... silêncio... um estranho silêncio é levado pelo vento... mas eis que um belo dia, num belo dia qualquer, no começo do pré-polimento, no fim do treino, do nada, a Braçada Alongada perguntou aos dois Cotovelos, na frente de todo mundo, antes do treino começar:
- Qual de vocês pode me fazer ficar veloz, nadar com poucas braçadas e sem gastar muita energia?
- Sem dúvida que sou eu!! Disseram os dois ao mesmo tempo.
Foi então que o Maisena propôs um desafio de um de 50 pra cada um dos Cotovelos, num sábado, exatamente daqui um mês. Ficou decidido uma disputa só entre os dois, pra que a Braçada Alongada pudesse tomar a sua decisão.
Foi então que o Maisena propôs um desafio de um de 50 pra cada um dos Cotovelos, num sábado, exatamente daqui um mês. Ficou decidido uma disputa só entre os dois, pra que a Braçada Alongada pudesse tomar a sua decisão.

A partir deste dia os jornais começaram a exibir manchetes enormes, longos textos e fotos sensacionais sobre “O DESAFIO DOS COTOVELOS”. Aquele mês foi muito intenso! Os caras treinaram animal. Galera em peso assistindo os treinos. O Maisena foi durão (apesar de cochilar em algumas séries de A1...). A galera botava pilha toda hora nos competidores. Os cotovelos fizeram séries absurdas, fantásticas! Começaram os preparativos para o grande dia. Turistas chegando de todos os cantos do mundo. O único hotel da cidade estava lotado. O evento virou notícia internacional depois que figuras como Michael Schumacker e Chaves deram suas opiniões a respeito do confronto. Tchantchan!! - Finalmente chegou o grande dia! Sabadão!
Alvoroço na cidade. Nas ruas, lanchonetes e em todo lugar, o assunto era um só: O Desafio dos Cotovelos. - Qual é o Cotovelo ideal para a Braçada Alongada?

Enquanto isso, lá na piscina a imprensa já tinha se instalado no local. Repórteres da Tiécoslováquia Central, Coréia Setentrional, França de Cima do Monte, Calômbia e mais 839 países de 6 planetas ao redor da terra cobriam o evento. O “DESAFIO DOS COTOVELOS DENTRO DÁGUA” ia passar até no esporte espetacular de domingo! Os melhores lances iam rolar no Fantástico. O árbitro geral era o Sr. Respeitadíssimo Cronometrildo Pires. Arquibancada bombando (dizem que saiu no The New York Times, que mais de um milhão de pessoas ficaram do lado de fora da piscina, assistindo pelos telões, inconformadas). Lá dentro era só badalação, psy rolando no aquecimento... pais, mães, amigos, tava todo mundo lá e mais um monte de bicão. Tinha torcida organizada pra um e fã clube pro outro. Ronaldinho Gaúcho presente fazendo embaixadinhas... Nesse dia até o Batata Onduleichon deu entrevista...

- Atenção, se ligaí, atenção! Vai começar a cerimônia de abertura... Quem fez o primeiro discurso foi o diretor, o nome dele era Mário Enroleichon Dias. Demorou um monte. A moçada começou a sentar... aí veio o presidente do clube, Sr. Chatonildo Total, que falou bem mais que o outro, e a mulher dele, a Sra. Ridiculina Total, com um cabelão engraçado, que falou, falou e não disse absolutamente nada sobre natação. Depois dela chegou a vez do prefeito da cidade, o Sr. Politicoso de Alencar, que fez um discurso emocionado: - Senhoras e Senhores! Hoje é um dia especial! Muito especial. Um dia aguardado por todos nós. O dia que a Braçada Alongada vai decidir se é melhor nadar com o Cotovelo Baixo Dentro Dágua ou com o Cotovelo Alto Dentro Dágua!! Palmas, palmas! Papel picado, gritos de guerra. Fogos de artifício! Bum! O Flutuador foi o locutor oficial. Hino completo de Ninguem-Nadópolis, hasteamento da bandeira de Piscinópolis, autoridades e atletas perfilados. Mão no peito, olhos fechados. A emoção invade as arquibancadas, totalmente lotadas. Apreensão pela expectativa de uma decisão histórica. Todos querem ver os dois tiros de 50 mais importantes do século. (...) ... psssiu! ...pssiu... silêncio, silêncio...
- Á sua marca... pam! - A Braçada Alongada pulou e nadou com o Cotovelo Baixo...
- Á sua marca... pam! - A Braçada Alongada pulou e nadou com o Cotovelo Alto...
Muito tempo se passou depois daquele sábado. Diz a lenda que, para espanto geral de todos os presentes, fãs, especialistas, curiosos e expectadores via satélite do mundo inteiro, logo depois da segunda prova, não havia mais dúvidas. O placar mostrava e o árbitro confirmava.
- Era incontestável. A diferença foi simplesmente absurda!
E foi assim, naquela manhã de sábado ensolarado, que finalmente a Braçada Alongada
fez a sua escolha! ... E eles viveram felizes para sempre.
Fim.

Comentários

Anónimo disse…
Que grande historia de amor!